BIRRA

Criar os filhos para que consigam equilibrar dever e prazer, responsabilidades e alegrias é um grande desafio como educadores. Um processo diário, que exige muita coerência da nossa parte para que o resultado seja positivo. Neste caminho surgem as necessidades das crianças que, muitas vezes, são comunicadas através de um comportamento específico, as supostas birras.

A birra aparece como uma resposta, uma reação sobre uma carência ou excesso identificado pela criança. Surge como conseqüência, porque essa é a forma das crianças se expressarem de acordo com a evolução do seu cérebro. Então, toda vez que elas têm uma situação complexa demais para lidar, utilizam essa ferramenta para contar pra gente o quanto precisam de nós para direcionar sua dificuldade. É um movimento natural da infância e que pode aparecer desde o primeiro ano de vida.

Com as crianças de até 4 anos é mais comum a birra acontecer pois elas ainda estão aprendendo a falar. O nosso papel é mostrar que não entendemos o que essa birra quer dizer e estimular um diálogo ao invés do se jogar no chão e chorar. Mesmo não tendo toda a clareza dessa conversa nessa idade, descrever o que estamos vendo, pegar no colo, mostrar o que não pode e oferecer o que pode, é o melhor caminho.

Já as crianças maiores, tem uma capacidade maior de compreender a nossa fala, de expressar o que pensam, sentem e poder conversar sobre o que está acontecendo. Isso não exclui a necessidade do contato físico, do colo, do carinho e do acolhimento do desconforto da criança.

O ponto, independente da idade, é não voltar atrás naquilo que já tinha sido combinado ou falado anteriormente. Relembrar os combinados é assegurar para a criança algo que já estava dentro das regras, nada mudou e que ela é capaz de suportar esse desconforto, pois terão outros momentos de conforto.

Tudo aquilo que nos causa medo, angustia e algum tipo de sofrimento, considero prejudicial. Então, quando a birra nos deixa neste estado, vale a pena repensar o que fazemos que influencia para que esse comportamento permaneça.

A grande dificuldade é não saber o que fazer diante da birra ou então, uma hora ceder, outra hora negar. Essa incoerência e inconstância confundem as crianças e impede o desenvolvimento do aprendizado de um desafio, do “não”, dos valores, da noção de perigo e dos limites tão importantes para a vida.

A forma como falamos, olhamos para a criança, expressamos corporalmente e a constância de tudo isso é que vai contando para ela toda a compreensão do que pode ou não. Aos poucos vai ficando claro esse aprendizado e ela estará cada vez mais fortalecida para lidar com suas emoções e desafios que surgirão.

Com amor,

Ana Flávia Fernandes

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