BRAVEZA INFANTIL

A maioria das crianças não gosta de ser contrariada e quando vive a contrariedade algumas delas se irritam e agem como um dragão feroz. Como lidar com essa braveza infantil?

Esse tipo de comportamento infantil é um fenômeno recente e que teve uma certa influência de algumas vertentes da psicologia e pediatria em achar que qualquer coisa que contrariasse uma criança, geraria algum tipo de trauma futuramente. Essa idéia de que a criança não poderia viver uma frustração para não se tornar um adulto insatisfeito e infeliz, auxiliou para que muitos pais fizessem um movimento oposto daquilo que viveram na sua infância com seus pais autoritários e a educação através do olhar punitivo. Isso gerou a permissividade e aceitação de todas as imposições dos filhos a qualquer possível desconforto que eles pudessem viver.

Quando somos bebês, temos nossas necessidades instintivas e queremos ser atendidos prontamente na hora em que elas surgem. Com poucos meses de vida já começamos a impor um ritmo em relação aos nossos pais e por muitos motivos dominamos a situação.

A idéia é que os adultos atendam algumas necessidades infantis, mas que antes de fazerem isso observem por pelo menos alguns minutos e dêem a chance da criança aprender sobre seus limites. Quando ela consegue fazer isso da primeira vez, vai ter mais facilidade de repetir na próxima e vai perceber que é capaz de lidar com esta lição de autoconhecimento. Essa pequena frustração gera muito aprendizado que pode acontecer desde os primeiros meses de vida e vai se desenvolvendo ao longo do tempo.

A criança que tolera a frustração aprende a viver no mundo de um lugar que não é o de carência em que ela tenha que ser brava para exigir suas vontades e sim o de tranqüilidade em que ela tenha que ser consciente de que nem sempre elas serão atendidas.

Podem ter barreiras no caminho, mas isso não acontece toda vez, depende de muitos fatores e nem sempre serão impeditivos para desistir de seguir adiante.

A frustração vai acontecer e é bom que ela aconteça para que através dela a criança desenvolva uma resistência interna e crie condições internas de luta. Esse é um processo que faz a criança se conhecer, se perceber e tornar-se um ser humano melhor.

Durante esse processo da frustração muitos pais se sentem responsáveis pelo NÃO, que dói, questiona, irrita e tira a criança de seu próprio eixo. Seria muito bom se pudessem falar sim a tudo e evitar esse sofrimento instantâneo do filho. As crianças pequenas vão chorar e espernear, as mais velhas vão questionar e fazer todas as suas observações. Muitas vezes os pais soltam o SIM e o NÃO sem um real sentido, sem conexão com algo valioso, que acabam deixando os filhos confusos, gerando raiva também. Sabendo que existe muito aprendizado acontecendo, precisamos cuidar de que lugar falamos, ensinando a criança a suporta o querer e não poder, a gostar do que tem e valorizar o que tem na vida. Aos poucos a criança vai aprendendo a viver com tantos estímulos a sua volta.

Chega uma hora que a prática do SIM e NÃO coerente faz com que a criança se pergunte e ela mesma saiba a resposta. Isso faz parte do aprendizado de que as coisas tem uma determinada maneira de funcionar e quem dá esse direcionamento são os pais. Essa orientação que vai ensinando a criança a lidar com sua raiva, tristeza, tédio e tudo aquilo que possa surgir quando viver uma contrariedade. Ela ainda não sabe como fazer isso e precisa ir aprendendo a se organizar internamente para saber como reagir a cada nova situação.

O SIM e o NÃO quando respeitados e compreendidos como uma função do nosso desenvolvimento e um movimento que nos leva a crescer, faz com que a gente valorize a relação de respeito e aprendizado que acontece com todos nós. Seguimos a vida toda aprendendo a ouvir e a dizer o SIM e o NÃO, onde podemos nos enxergar em uma situação, perceber nossos movimentos e mudar determinadas posturas e atitudes. Quando a criança entende tudo isso, a frustração passa a não ser um momento de tanto sofrimento e vira um momento de crescimento pleno, em que pode passar por aquilo e seguir adiante.

Com amor,

Ana Flávia Fernandes

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