O PODER DOS ELOGIOS
É bastante comum os pais demonstrarem orgulho quando os filhos começam a falar antes das demais crianças. Quando o inverso acontece, isso se torna motivo de preocupação. Bem intencionados, fazemos elogios que nem nos damos conta o quanto podem interferir no processo de desenvolvimento dos pequenos.
Vimos nos textos anteriores que cada criança tem seu ritmo próprio e é interessante que ele seja respeitado. Consideramos que os tempos de algumas crianças são referências e não regras. Então, é natural que todo esse processo de crescimento tenha variações.
Nosso desafio é oferecer estímulos necessários para que os pequenos cresçam saudáveis e desenvolvam sua autonomia. Uma das formas de se fazer isso é através dos elogios.
Quando elogiamos uma criança, ajudamos a criar recursos de auto confiança para que ela acredite em si mesma, acredite que seja capaz e que consiga superar desafios.
É muito bom quando ele surge de uma forma verdadeira e natural, mas em alguns momentos usamos o elogio de maneira tão solta e automática, que acaba sendo um substituto da nossa participação em algo que a criança vive ou vem para tapar algum buraco que a gente pensa que deixou na educação do pequeno.
“Você é muito inteligente!!”
Quando a criança recebe esse tipo de elogio que não vem de um acompanhamento do que ela viveu ou da percepção de uma nova atitude dela, ela passa a não ouvir mais toda essa aprovação que vem de nós. Nesse caminho ensinamos a criança a dividir o mundo em coisas que ela é boa, e coisas em que ela não é boa.
Neste momento a mente tagarela entra em ação, buscando estratégias para sentir prazer e evitar dor. Então, a criança evita e desmerece as tarefas em que não é um sucesso e coloca toda sua energia naquelas que já domina com facilidade. Isso tudo faz com que sua mente acredite cegamente em sua inteligência, provocando um efeito colateral de grandes proporções: uma desconfiança de suas reais habilidades.
Inconscientemente, a criança se assusta com a possibilidade de ser uma fraude e para protegê-la dessa frustração, seu cérebro cria um mecanismo de defesa: abraça seu rótulo de inteligente, desvaloriza a importância do esforço e supervaloriza a necessidade de ajuda dos pais ou outras pessoas.
O elogio é produtivo quando ele vai de encontro com o processo vivido e não com o resultado final dele. É aquela celebração voltada para a atitude, a ação ou o comportamento que a criança teve. O esforço que ela desenvolveu para viver o novo desafio ou nova tarefa.
Por não ter que garantir a verdade a respeito de um elogio, essa criança vai se sentir estimulada a arriscar muito mais para ter um resultado satisfatório para si mesma.
Ela só vai saber como se comportar diante de um novo desafio, vivendo esse desafio. E só vai saber o quanto é capaz de um monte de coisas, a partir do momento em que viver essa capacidade, fazendo essas coisas todas.
A criança que vive o esforço, sabe o grande acontecimento que vem pela frente, que é a dedicação e ir atrás de algo que ela acredita. E a hora que ela consegue, ela percebe que nada está pronto, tudo precisa ser construído. E o empenho, ao invés de ser entendido como algo ruim, passa a ser visto como algo natural, que faz parte da vida, da noção de causa e conseqüência, da busca de algum resultado e que fazendo a sua parte, pode alcançar seu objetivo.
Com amor,
Ana Flávia Fernandes