SEPARAÇÃO: ESTÁ DECIDIDO!

 Algum tempo atrás recebi no consultório uma mãe desesperada. Estava sozinha e buscava terapia para a filha, uma menina de 9 anos. Seu casamento já não lhe fazia mais sentido e apesar de morar na mesma casa com o marido, já não dormiam no mesmo quarto. A separação para ela já estava decidida.

Aquela jovem mulher narrou toda a trajetória de seu casamento e junto a todos os detalhes de tentativas em assumir a condição de “casamento feliz”, acompanhava um choro sofrido de quem já não tinha mais forças para sustentar aquela realidade. O marido já não lhe complementava a alma com afeto e além de ter atitudes rudes, agia em função de suas próprias vontades.

Via que estava assumindo a responsabilidade pela separação. Sofria acusações e cobranças do parceiro e da filha, que descarregava nela a raiva pela frustração de não ter mais os pais unidos. Quando tinha atitudes inadequadas, sabia que o marido tentaria comprar o perdão das duas com passeios ou algo que elas gostavam. Ela era a mãe chata e ele o pai legal.

Seu desespero girava em torno da filha única do casal. Imaginava que a filha sofreria muito com a maneira como o pai enfrentaria a separação e as consequências que poderiam surgir futuramente na vida da filha. A mãe percebia que o pai fazia chantagens emocionais com a filha para a separação não consolidar. O pai era um típico pai machista, provedor, ausente e distante. Não sabia a rotina da casa, da filha ou da esposa. Seu comportamento era de denegrir a imagem da mãe e transformar a vida da filha num mundo sem limites. A esposa foi distanciando cada vez mais, até o ponto de conversar apenas os assuntos relacionados à educação da filha e contas da casa. Com o distanciamento da esposa, o pai além de não aceitar a separação, começou a lamentar com a filha, culpando a mãe por sua infelicidade. A menina estava sendo usada como arma numa guerra entre o pai e a mãe.

Depois de um longo trabalho com a mãe, pai e filha o processo de separação deste casal foi finalizado. Isto só foi possível, quando a mãe deixou de se culpar como única responsável pela felicidade do marido e da filha.

Esta e outras cenas mostram que a preocupação com a reação dos envolvidos, principalmente dos filhos, é um dos tópicos mais delicados da separação.

Geralmente, os pais apresentam dificuldade em deixar claro algumas informações básicas para que os filhos sejam menos prejudicados.

– Explicar o motivo da separação sem acusar, vitimizar, culpar ou reclamar.

– Informar objetivamente quando e como será a separação.

– Deixar claro o que acontecerá com os filhos sem responsabiliza-los, apenas ouvindo seus desejos.

Todas estas informações devem ser transmitidas aos filhos, abrindo espaços para perguntas com respostas pertinentes, reforçando que os pais não serão ex-pai e ex-mãe e dando acolhimento aos possíveis desejos de expressar seus sentimentos.

Falar sobre a separação com os filhos não é fácil, é uma atitude corajosa e honesta que deve ser comunicada apenas depois de estar seriamente assumida pelo casal.

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