BULLYING
Na infância é muito comum percebermos algumas crianças chamando outras de “nariguda”, “gorda”, “zoiuda” entre outros adjetivos. Esse é um tipo de comportamento infantil para pensarmos se é apenas uma brincadeira ou uma forma de amenizarmos as nossas intolerâncias as diferenças.
Divergências sempre existiram, são saudáveis e nos ajudam a construir novas referências sobre muitos aspectos da vida. O fato é que nem sempre percebemos que transmitimos para os pequenos uma referência de que o mundo é feito de rígidos opostos: certo X errado, bom X ruim, adequado X inadequado entre outros.
As crianças aprendem através dessas referências. Transferimos para elas nossa divisão da realidade e elas seguem aprendendo que a vida é feita desses extremos: o bonito e o feio, o gordo e o magro, o forte e o fraco, o burro e o inteligente, o rico e o pobre, nada além disso. Se não damos a elas a noção de movimento entre os extremos, as diferenças não vão se encontrar e conversar, pelo contrário, vão se atrair e se chocar.
Quando uma criança ouve da outra que é burra, ela entende que ela é aquilo que o outro está dizendo. Através do “entrar por um ouvido e sair pelo outro” ou o “bate e volta”, a criança desenvolve um escudo protetor contra ataques, um recurso interno de proteção que a defende das situações da vida.
Para criar esta barreira é necessário ter segurança e autoconfiança. Podemos ajudá-la a aceitar-se como diferente do outro, não como estigma, mas como um ser único, com características que a diferencie de outras crianças. Se reforçamos a visão de mundo polarizado, ela não cria esse bloqueio e se torna um imã e um alvo certeiro para quem quer atacar, já que atrai exatamente porque não encontra meios de defesa.
A grande oportunidade do agressor é descobrir quem não reage, o que tem medo, o que pode ser dominado. Esta não-reação é o principal fator para o bullying acontecer. O agressor impõe à vitima diversas formas de abuso físico e/ou psicológico por meio de intimidação, preconceito social, assédio, ofensa, covardia, roubo, ridicularização, danificação de pertences, discriminação, enfim: tudo aquilo que prejudique uma pessoa que se mostra impotente para reagir e não revela a ninguém para não piorar a situação. A vitima, além da dificuldade de reagir, torna-se refém das ameaças e entra em pânico. Segue calada apresentando os sinais de abusado pelo bullying.
Aparentemente, vitima e agressor são opostos – o mal e o coitado. Nas duas pontas há uma postura engessada como conseqüência de uma dificuldade em lidar com as diferenças, uma sob a forma de paralisia e a outra de ataque.
Quando compreendemos esta dinâmica ampliam-se as condições de combater o bullying.
O primeiro ponto é percebermos se em casa usamos este tipo de comunicação para corrigir as crianças. A criança que sofre agressão física/psicológica, tende a também resolver dessa forma as situações que vive. Acabar com qualquer tipo de violência na forma de correção é essencial para que ela se desenvolva e o diálogo possa surgir.
Nosso cuidado, ensinamento e parceria com a escola são primordiais para ajudarmos a traduzir em palavras e corrigir sempre que algo acontecer. Assim a criança compreende o que aconteceu e retoma a relação.
Se defender é outro ponto muito importante, é um treino e um rico aprendizado. A idéia é que a violência não seja nunca usada nessa defesa. A criança que resolve de uma maneira positiva, se fortalece e ganha seu espaço. Nosso desafio é orientar, sempre respeitando a natureza da criança para que ela aprenda a se posicionar. Essa segurança permite que ela esteja livre para se relacionar de maneira saudável, porque é capaz de se posicionar diante das situações que viver.
Com amor,
Ana Flávia Fernandes